{gardens and deserts}

this side of eternity oozes with pain and disappointment, especially with one’s self. sometimes it’s a nice garden of broken but supporting fellow travellers, but other times it’s a desert. sometimes a self-inflicted desert. and it’s ok, because this gives us a longing for what is to come.
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“The books or the music in which we thought the beauty was located will betray us if we trust to them; it was not in them, it only came through them, and what came through them was longing. These things—the beauty, the memory of our own past—are good images of what we really desire; but if they are mistaken for the thing itself they turn into dumb idols, breaking the hearts of their worshippers. For they are not the thing itself; they are only the scent of a flower we have not found, the echo of a tune we have not heard, news from a country we have never yet visited. (…) Almost our whole education has been directed to silencing this shy, persistent, inner voice; almost all our modem philosophies have been devised to convince us that the good of man is to be found on this earth. And yet it is a remarkable thing that such philosophies of Progress or Creative Evolution themselves bear reluctant witness to the truth that our real goal is elsewhere.” – C. S. Lewis

paradoxos

Reconheço que não sabia o suficiente acerca de sofrimento e perda até há umas semanas.

Sim, vi partir algumas pessoas que amava ao longo dos anos. Mas foi a primeira vez que experimentei na pele, nos ossos, no peito a partida de alguém que me amava incondicionalmente. Ficamos mais pobres quando isso acontece. Tão mais pobres.

Como é que se sobrevive à dor, à ferida que parece não sarar? Como é que se volta à rotina, aos deveres, às expectativas dos outros? Como é que se acorda e adormece sem confirmar mentalmente que o que aconteceu realmente aconteceu? Quando é que os objectos, os pormenores nos podem trazer lembranças sem trazerem acoplada a dor lancinante?

O que me faz sobreviver é saber que a dor e a alegria podem ser companheiras de viagem. Que a incompreensão e as convicções podem viver no mesmo espaço exíguo da minha alma limitada e débil. Deus é Soberano e Deus é Bom. Agarro-me a estas certezas absolutas até me sangrarem os dedos. Porque deixada ao meu sofrimento, definho e desapareço. Saber que há algo maior do que eu, que há esperança segura maior do que a pior circunstância, permite esta harmonia paradoxal entre perplexidade e alegria. Permite que este lado da eternidade seja suportável e tenha propósito.

contemplating mortality

‘… let us contemplate our mortality. shall dust exalt itself? the thoughts of the grave should bury our pride. (…) the serious meditation of death is enough to cure the swealing of pride.’ – thomas watson

 

{the song was a gift for my brother’s birthday a few days ago. we used to sit in our shared balcony in our childhood home and play guitar, sing and talk}

minguar.

o nosso neo-farisaísmo vem em todos os tamanhos e feitios mas é tão pernicioso quanto há dois milénios. vem mascarado, como é sua característica. é absolutamente expectável nos outros e especialmente em nós, mas ainda assim consegue surpreender-nos porque nos cega. há que agradecer as abertas, a luz que nos atinge certeira. resta-nos chorá-lo e minguá-lo todos os dias. ouvir mais, falar menos.

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as ideias são da Filipa (8 anos), os rabiscos são meus e o título é de outro hobbit. andámos 3 dias nisto. à hora de almoço sempre o mesmo pedido “sara, temos que acabar a nossa banda desenhada.”

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//repetição//

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todas as manhãs o mesmo percurso. às 8h55 é hora de levar os pequenos da Pré à escola. todas as manhãs às 8h55 há uma ou duas mãos cheias de hobbits que insistem “podemos ir contigo levar os da Pré? vá lá…!”

todos os dias passamos pelo ‘jardim das plantas carnívoras’ com muito cuidado, pelo ‘lago dos tubarões’, pela ‘rampa inclinada’, ‘as areias movediças’ e os ‘blocos de gelo’. pedem-me “podemos ir mais devagar?” querem saborear o que o novo dia tem para oferecer.

e como é que é possível dizer que não se há tanta coisa para ver neste caminho que se faz em 4 minutos e que teimamos em esticar? há uns meses eram os caracóis, as folhas que mudavam de cor, as árvores cujos nomes queriam aprender, as rolas empoleiradas nos cabos da electricidade. agora são as teias de aranha cobertas de minúsculas gotas de orvalho ou geada. uma exposição de design inteligente. graça comum.

hoje, enquanto fazíamos o mesmo caminho pela milionésima vez, foi-me dado a perceber que estes hobbits têm muito a ensinar sobre a beleza da rotina. o que pode parecer assustadoramente repetitivo pode efectivamente ser aquilo que nos salva os dias.

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solaris

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Solaris (1972), do russo Andrei Tarkovsky, trata da viagem do psicólogo Kris Kelvin a um planeta constituído basicamente por um oceano misterioso e que tem a capacidade de materializar memórias daqueles que o procuram entender e explorar.

é um filme rico e denso, despojado de técnica e efeitos especiais, apesar de ser à partida um filme de ficção científica. Tarkovsky quis despir a narrativa ao essencial e só não retirou qualquer alusão ao espaço por impedimento do autor do romance (Stanislaw Lem). o planeta solaris é pretexto para tratar assuntos como a persistência da memória, os relacionamentos, a procura por algo maior fora de nós.

as cenas longas, os diálogos e as inquietações, a teatralidade, o engenho dos planos e do que se escolheu mostrar ou deixar de mostrar cativou-nos cá em casa. foi uma boa porta de entrada para o universo Tarkovskiano e, segundo consta, a entrada mais fácil de todas. há filmes que continuamos a ruminar dias depois de os vermos. não fosse tão extenso e teria que o rever rapidamente.

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a song.

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chegar cedo e ter a praia quase vazia de gente. mergulhar naquelas águas tranquilas e férteis às 8h30 da manhã e ouvir os sons tímidos do início do dia ainda preguiçoso. água salgada, areia e sol parecem elementos simples, que tomamos por garantidos tantas vezes. parece um cliché, quase. mas é generosidade do Criador, é graça comum. tudo isto um imenso cântico.

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Does God proclaim Himself in the wonders of creation? No. All things proclaim Him, all things speak. Their beauty is the voice by which they announce God, by which they sing, “It is You who made me beautiful, not me myself but You”. – Agostinho

do salmo 19

morninga constância é uma espécie de bicho raro. felizmente, quanto mais inconstantes somos nos nossos desejos, no relacionamento com os outros, nos gostos… mais percebemos que a constância está fora de nós. se olharmos com atenção, ainda conseguimos ver a sua marca na criação. as estações, os tempos próprios para plantar e semear. a viagem dos planetas em torno do sol. o ciclo da água. a gestação de um bebé. tanta ordem, tanta beleza na ordem. “sem linguagem, sem fala”.

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neste ‘negócio’ de trabalhar com os hobbits aprende-se umas coisas curiosas. aqueles mais hesitantes, mais medrosos, os menos confiantes no seu próprio esforço criativo são muitas vezes aqueles que apresentam os resultados mais interessantes. são inconvencionais sem saberem sequer o que isso é.


o T andou às voltas com uma proposta, sempre cheio de medo de errar, de não conseguir… preso. experimentou vários materiais. até que descobriu a tinta da china e a cana que desliza deliciosamente no papel kraft. e no fim celebrámos os dois. ele porque amou o processo e eu porque amei o processo e o resultado.

o que gostava que a minha filha soubesse acerca do dia internacional da mulher

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não sou feminista nem defendo o direito à igualdade de géneros*. vivo pelo princípio bíblico da complementaridade. tal como a questão da justiça, não se trata de todos receberemos por igual, mas todos receberemos o que necessitamos.

o dia de hoje continua a ser importante de lembrar, porque precisamos de continuar a dar voz a meninas e mulheres que não a têm, simplesmente por serem meninas e mulheres. e a interceder por elas, a chorar por elas. a ‘cultura’ dos casamentos forçados, abusos emocionais e físicos, a política de planeamento familiar na China, o tráfico humano, o rapto das meninas na Nigéria, a educação impedida, proibida… as situações multiplicam-se diariamente e o coração contorce-se.

este não pode ser simplesmente mais um dia de flores e jantares. o poder da mulher não assenta na ideia de que temos o direito de ocupar os mesmos lugares que os homens. também não assenta no nosso corpo e no que achamos que podemos fazer ou deixar de fazer com ele. fomos criadas, nomeadamente, para nutrir e cuidar, para servir, para usar as mãos e o intelecto para o bem dos que estão à nossa volta. não há nada de insignificante nisso.

 

*a Ana Rute fez bem em lembrar que no que toca à dignidade, esta não depende de géneros.

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há 3 anos as circunstâncias eram diferentes. celebrámos os anos dela 1 dia antes. não acredito que amanhã já faz 16. para ela o tempo demora a passar e custa-lhe. se ela soubesse como o tempo é veloz… talvez seja esta a minha oração para os seus 16 anos – que aprenda o valor saboroso da espera.
(o bolo era de limão e as velas foram feitas à mão a partir de cera de abelhas)

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3 years ago we celebrated her birthday a day ahead because the circumstances were quite different. i can’t believe she’s turning 16 tomorrow. for her, time is slow and painful to pass. if she only knew how fast time flies… maybe this will be my prayer for her 16th birthday – that she may learn the sweet flavour of waiting.
(the cake was lemon cake and the candles were handmade from beeswax)